Domésticas estão com passe valorizado
Bruno Ferro – Diário da Região – São José do Rio Preto/SP
Simone Félix: “O salário melhorou nos últimos anos. Antigamente os salários eram inferiores” – Foto Sérgio Isso
Em falta no mercado de trabalho rio-pretense, as empregadas domésticas mensalistas em Rio Preto estão mais valorizadas que outras profissões do mercado local tradicionalmente melhor remuneradas. Além disso, muitas profissionais do lar preferem trabalhar como diaristas para obterem maiores ganhos.
Embora o salário mínimo paulista para trabalhador doméstico seja de R$ 690, as domésticas têm recebido salários que variam de R$ 800 a R$ 1,5 mil. Algumas profissionais, portanto, recebem mais do que o piso nacional estabelecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para os professores de educação básica (PEB) 1 (1º ao 5º ano), que é de R$ 1.451 para carga horária de 40 horas semanais.
Empresas que agenciam domésticas, ouvidas ontem pelo Diário, dizem que a maior parte das domésticas não aceita salários menores do que R$ 800 para trabalhar de segunda a sexta-feira. Quando o serviço vai até sábado, o mínimo solicitado sobe para R$ 1 mil. “Já agenciei a contratação de empregadas para dormir na residência por R$ 1,8 mil. Sem morar, por R$ 1,5 mil,” diz o empresário José Roberto Campanelli, da Mary Help.
Nos Classificados do Diário é comum encontrar anúncios com pessoas em busca de doméstica. No último domingo, o caderno trazia 19 anúncios. Em um deles, o empregador oferecia salário de R$ 1 mil mais vale transporte ou R$ 1,2 mil mais combustível para jornada de trabalho de segunda a sábado. Anúncios como esse estão cada vez mais comuns e refletem uma tendência do setor: está mais difícil encontrar uma empregada doméstica fixa e, por isso, a remuneração vem subindo.
Se o salário delas compete até com profissões que exigem curso superior, quando a comparação é com outros tipos de profissionais a vantagem é grande. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Rio Preto (Sincomércio), o piso salarial para empregados em microempresas é de R$ 785. Para empresas em geral, é de R$ 856. Office boys e empacotadores têm piso de R$ 609.
Gilvânia está satisfeita
Gilvânia Aparecida Araújo, 39 anos, tem o ensino médio completo. Fez cursos de culinária, mas nunca pensou em partir para o ensino superior. E nem precisa, já que está satisfeita com o salário que ganha. Trabalha como empregada doméstica e nem pensa em mudar de profissão. “No último emprego, ganhava R$ 1,5 mil livres, mais vale transporte e cesta básica.”
Agora, ela está disponível no mercado, mas não deve ficar por muito tempo. Apesar da exigência na questão salarial, já foi procurada para entrevistas de emprego. “Está mais fácil encontrar trabalho, mas é preciso ter boas referências.” A situação salarial e a oferta de empregos nem sempre foi tão boa. Quando entrou no mercado de trabalho, Gilvânia atuava como cozinheira e, há seis anos, se tornou doméstica. Nos primeiros empregos, o salário não passava de R$ 800.
Ao contrário de muitas colegas de trabalho, ela não pensa em se tornar diarista. Pensa nas vantagens do registro em carteira, como férias, décimo terceiro e Fundo de Garantia. “Continuo pelos direitos trabalhistas. Sem contar também que é complicado estar cada dia em uma casa diferente.”
De mãe para filha
Os bons salários, no entanto, não atingem os profissionais de todo o País. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad) do IBGE, 43,3% das domésticas brasileiras recebem até um salário mínimo (R$ 622). Mesmo assim, Simone Félix, 30 anos, resolveu seguir os passos da mãe e é doméstica há oito anos e meio. “O salário melhorou nos últimos anos. Antigamente os salários eram inferiores.”
Ela também prefere trabalhar como mensalista, devido à estabilidade do emprego. “Tenho um filho e estou grávida novamente. É importante ter salário fixo e carteira assinada.” A mãe dela, Nilda, sente no dia a dia a valorização da classe. Trabalha em duas casas durante a semana. “Os patrões têm medo de perder a gente e não conseguir encontrar ninguém.”
Profissional em extinção
Tanta exigência das domésticas faz sentido. Afinal, o mercado está escasso. As que não estão empregadas, preferem trabalhar como diaristas. “Empregada mensalista é profissional em extinção. As que existem estão envelhecendo e as herdeiras têm maior escolaridade e partem para outros ramos,” disse o empresário José Roberto Campanelli, da Mary Help. Segundo ele, há dez anos, 80% das domésticas eram mensalistas e 20% diaristas. A diferença caiu. A proporção chega a 66% de mensalistas para 34% de diaristas. (…)
A dificuldade em encontrar uma empregada mensalista já foi constatada pelo comerciante Antônio de Souza, 70 anos. “A maior parte opta por ser diarista, já que os rendimentos são melhores,” disse. Há seis meses, quando a antiga funcionária deixou o emprego, não consegue sucesso na contratação. Colocou anúncio no jornal para tentar resolver o problema. “Qualquer outro tipo de profissional é fácil arrumar, mas empregada doméstica é um caos.” Para o consultor financeiro João Elias Martins, o crescimento econômico brasileiro tem ligação direta com a falta de mão de obra para os serviços domésticos e o consequente aumento de salários.
A melhora da capacidade financeira e a presença do homem e da mulher no mercado de trabalho aumentam a necessidade e a possibilidade da contratação de empregadas. No entanto, a escassez de profissionais inflaciona o setor. “Quem tem mais condições fica com os melhores,” afirmou Martins.