Mudança de Hábito
Após trabalhar registrada durante dois anos como doméstica, Joice Mara, 32 anos, decidiu que era hora de mudar e passou a ser diarista. O principal motivo: dobrar os seus ganhos mensais – de R$ 600 para R$ 1,2 mil. Mas também para ser mais dona de si, ter flexibilidade nos horários e facilidade para buscar outras oportunidades, caso não goste da casa, família ou rotina. Joice é exemplo da transformação que ocorre, não só em Rio Preto mas no Brasil, com as profissionais que atuam na limpeza doméstica. A empregada, como outrora existia, está em extinção.
Depois de dois anos como empregada doméstica, Joice Mara agora atua como diarista em diferentes casas; ela prefere assim
Agora, a maioria prefere trabalhar cada dia em uma casa diferente, por alguns ou os mesmos motivos citados por Joice. “É muito melhor. A gente anda por mais lugares”, diz ela. A gestora de recursos humanos da Base Empregos, Mila Camarin, afirma que hoje é muito difícil contratar uma empregada para trabalhar fixo. O salário de uma profissional assim varia de R$ 600 a R$ 1,2 mil – o valor mínimo é pago a 80% delas. “Não recebo mais anúncio de ofertas de R$ 600. Só aparecem interessadas a partir de R$ 800. Ainda sim é difícil.” A jornada é de 44 horas semanais.
Como diaristas, explica Mila, as trabalhadoras ganham até R$ 2 mil mensais. Elas cobram de R$ 50 a 120 por limpeza, principalmente em casas de condomínio. O valor varia de acordo com o tamanho da casa. A mudança de perfil profissional da doméstica acompanha o crescimento da classe C, com mais gente morando sozinha e ascensão da mulher no mercado de trabalho. A especialista afirma que as mulheres fogem do trabalho fixo porque, às vezes, o contratante quer pagar o mínimo, R$ 600, e explorar demasiadamente a mão de obra. “Tem que limpar a casa, passar e lavar roupas e ainda cuidar das crianças.” Idosos são outros contratantes tradicionais desse serviço.
Hipoteticamente, uma família que paga salário de R$ 600 mensais para a empregada terá praticamente o mesmo gasto com encargos e vale transporte. Para a encarregada de recursos humanos da Staff’s, Selma Kharfan de Lima, a profissional deve avaliar os prós e contras antes de escolher a linha de trabalho que vai seguir. Ela explica que o emprego registrado garante benefícios, como 13º salário, férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O trabalhador também fica segurado em caso de acidente. Se trabalhar por seis meses tem direito ao seguro-desemprego.
“Se precisar faltar por problema de saúde, pode levar o atestado e não terá o dia descontado. A diarista que não recolhe a Previdência, de forma autônoma, não tem esse direito.” Com Joice, aconteceu justamente isso. Ela sofreu um acidente de moto recentemente e ficou dois dias parada. No final do mês, serão R$ 100 a menos no orçamento. “Vai fazer falta, mas prefiro seguir assim.” Ela pensa em pagar a Previdência. Eliane Cristina Hernanes fez o mesmo caminho. Há dois anos é diarista, após oito como doméstica. “Hoje, é muito melhor. Ganho mais. Outra vantagem é que tenho mais tempo para fazer as minhas coisas e cuidar da minha própria casa. E é mais fácil mudar de emprego.” Ela, cobra, no mínimo, R$ 50 para fazer uma limpeza.
Empresário montou agência em Rio Preto para servir de elo entre profissionais e contratantes
Doméstica está em extinção
A contratação de empregada doméstica ou diarista nem sempre é tarefa fácil. De olho nesse nicho de mercado, o empresário José Roberto Campanelli abriu uma empresa em Rio Preto para servir como elo entre as profissionais e os contratantes. Em apenas dois meses de existência, foram agenciados 300 serviços. Campanelli afirma que é forte a demanda por mão de obra para serviços ligados à organização, conservação e limpeza diária das residências. Principalmente com o crescimento do número de domicílios com um morador, que prefere contratar serviços de diaristas a ter uma empregada doméstica.
“Não existe mais o mercado de doméstica como a gente conhecia no passado. A mão de obra está escassa. As profissionais preferem trabalhar como diaristas. Com mais escolaridade, outras estão mudando para o comércio, setor de serviços e também para a indústria”, afirma. A empresa seleciona as mulheres, sobretudo as que têm experiência, e oferece treinamento que inclui dicas de comportamento, apresentação, higiene pessoal e segurança, além de mostrar como devem ser executados os serviços de limpeza, faxina, assim como os de lavar e passar roupas. Em média, o valor cobrado por visita é de R$ 80, mais o vale transporte da trabalhadora. A ideia já está sendo exportada para outras cidades, como franquia.
FONTE: Diário da Região – São José do Rio Preto